Thursday, October 26, 2006

Prémio Nobel da Literatura 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual. O Prémio Nobel da Literatura foi apresentado/discutido pelo Professor Doutor Mário Cabral. A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Literatura a Ohran Pamuk devido "who in the quest for the melancholic soul of his native city has discovered new symbols for the clash and interlacing of cultures".


LITERATURA/POLÍTICA/RELIGIÃO
Mais uma vez o prémio Nobel da Literatura é envolto na polémica das relações Literatura/Política. Desta vez, por se tratar de um turco, devemos acrescentar a Religião à contenda. É inegável que, seja qual for o mérito deste escritor, as relações da sua obra com a actualidade política e religiosa são evidentes. É legítimo que a Academia Sueca tenha uma tábua de valores, dado que o dinheiro lhe pertence. Só está em causa o valor intrínseco da obra de Orhan Pamuk se se considerar o prémio Nobel como garantia de genialidade literária. Não parto desta presunção. Considero o prémio Nobel apenas como uma chamada de atenção respeitável para uma determinada obra literária do momento.


ARTE PELA ARTE
Suponho que aqueles que sublinham a tendência política desta decisão se inclinam para elogiar o experimentalismo formal da arte pela arte. Compreendo-os e não estou em total desacordo com eles. Por meu lado, deixei de ter certezas a este respeito à medida que amadurecia. Inclino-me para pensar que a arte pela arte é uma perversidade, na medida em que a estética como valor dos valores é desumana, ou seja, não atende à excelência da pessoa. Seja como for, no caso do romance, é difícil de recusar que apresenta uma cosmovisão; e mesmo que ficcional, interessa-me saber quais as propostas desta ou daquela narrativa, por mais perfeita que seja formalmente – diria, até, tanto mais quanto for grande o valor estético da obra em questão.

1. Pamuk nem é um autor sem interesse formal, bastando enumerar as suas influências (Joyce, Proust, Borges, etc.);

2. Para além destas influências, Pamuk é bastante lido no Ocidente, dá aulas nas universidades americanas, etc. Na Turquia queimam-lhe os livros e tem um processo pendente por tomadas de posição que são do domínio público:

a) Como não ter o seguinte pensamento maldoso: «Turcos destes não nos importamos que pertençam à Europa unida»?!

i. Um dos temas recorrentes de Pamuk é o do duplo, o do sósia que vem de Veneza para Istambul, por exemplo;

ii. E o império romano do Oriente? E a cultura bizantina? E, antes, os pré-socráticos que vinham quase todos das ilhas mesmo ali ao lado;


iii. E não são, efectivamente, islâmicos e cristãos dois dos três povos monoteístas, crentes no mesmo Deus único?

iv. Mas quem muda e quem é mudado? E o que é que muda em ambas as coordenadas?



RELIGIÃO/LITERATURA
A Literatura começou por estar ligada à Religião e, para prová-lo, basta que leiamos os livros sagrados de seja qual for a cultura. Não foi há muito tempo que a Literatura se desvinculou por completo da Religião, e isto só aconteceu no Ocidente, que eu saiba. Diria que só o realismo (séc. XIX) provoca as crenças religiosas ocidentais, numa evidente luta pelo poder. É consequente que, no caso islâmico, a Literatura não esteja isenta de censura, tal como não está a política e a cultura em geral. Por estarmos há mais de dois milénios numa civilização a-teocrática esquecemo-nos que existem estados teocráticos.

1. Como não trazer à baila o episódio tão recente do discurso do Santo Padre na Alemanha, que tantos azedumes levantou e que tão poucos apoios explícitos de governantes europeus colheu?

2. A eleição de Tamuk não deveria levar, a contrario sensu, a que se desse razão à lição de Bento XVI, com todas as consequências futuras que deveríamos enumerar para estudo?


VERDADE, TEMPO E ESPAÇO
As polémicas que sempre se levantam em redor do prémio Nobel da Literatura parece não afectarem os outros prémios, nem sequer o da paz (que, diga-se em abono da verdade, este ano poderia ser bem discutido…). Se eu soubesse mais de ciências do que aquilo que sei aposto que encontraria razões de suspeita – pois se mesmo assim ignorante, fico, enquanto católico, embaraçado com o prémio da medicina! Parece-me que isto se deve ao facto de a Literatura jogar fora de casa, como passo a explicar.


NATUREZA
As ciências não têm fronteiras mas são um conhecimento temporal. O objecto das ciências é a Natureza (ser humano incluído como animal), que é igual nas suas leis em toda a parte. Estas leis são ultrapassadas pelo progresso porque a ciência não detém a Verdade, que cada vez menos, inclusive, procura, contentando-se com conjecturas que funcionam.

1. Os artigos científicos são escritos em Inglês e publicados em revistas internacionais;

2. O futuro em ciência significa progresso e melhoria (só por curiosidade histórica lemos a física de Aristóteles);

3. Paradoxalmente, a ciência não é teleológica. É uma linha recta virada para uma incógnita.


HOMEM
O caso da Literatura é bem diverso, como, de resto, o de todas as Humanidades. Quanto melhor é a obra literária, mais ela sai do tempo, porque ao escritor interessa sobretudo a alma humana nas suas verdades eternas. Contudo, a Literatura nasce numa Língua e numa cultura específica e limitada por fronteiras.

1. Pamuk escreve sempre em turco. Por analogia, suponho que só o turco lhe permite a densidade indispensável ao acto criador. Não só por analogia – ouvi-o afirmar isto mesmo a um jornalista que lhe perguntava em qual língua o aconselhava a lê-lo).

a) Quero crer que a Academia Sueca o leu no original…;

b) Noutros tempos, as pessoas cultas aprendiam a ler uma língua – por exemplo o Português – para entrarem em contacto com a obra de um determinado génio – por exemplo Camões.

2. O futuro em Literatura nem sempre significa progresso e melhoria (será Pamuk comparável a Homero?);

3. As Humanidades são concêntricas, o que significa que têm um único centro para diversas circunferências e, nestas, pontos circunstanciais distintos.


CONCLUSÃO
O senhor Nobel teve todo o direito de apreciar uma única das seis Humanidades, que premiou entre as ciências. Dá a ideia que são matérias afins mas não são. Os critérios de umas não são válidos para a outra. Isto seria prejudicial para a Literatura, não fosse a Literatura mais do que o prémio Nobel. E, a terminar, sublinhe-se que, para além das outras Humanidades (História, Religião, Belas-Artes, Música e Filosofia), também não recebe prémio a Matemática, por exemplo. Digo isto para relativizar a importância deste acontecimento anual que, estou em crer, só tem a cobertura jornalística que tem devido ao prémio pecuniário (que não rejeitaria).

Monday, October 23, 2006

Prémio Nobel da Física 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual. O Prémio Nobel da Física foi apresentado/discutido pelo Professor Doutor Miguel Ferreira. A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia, em partes iguais, a John Mather & George Smoot pela “descoberta da anisotropia da radiação cósmica de fundo, na zona dos micro-ondas". Trata-se de mais um prémio Nobel atribuído a astrofísicos.

No fundo, este prémio Nobel tem a ver com a interpretação da seguinte imagem do Universo (O Universo Primitivo):

Continuamos, ainda hoje a perguntar-mo-nos: Qual a origem do Universo?

A cosmologia foi, até há pouco tempo, apenas uma área de análise filosófica, procurando responder a questões como:
–O Universo é infinito ou finito?
–Existe desde sempre ou teve um início?
–Existirá para sempre ou terá um fim?

Ainda continuam a existir questões metafísicas, como:

Se o Universo teve um início, o que existia antes?

Hubble, nos anos 20, descobriu que todos os objectos distantes (galáxias) se afastavam de nós, dando origem ao conceito de Universo em Expansão representado na figura seguinte.


Não estamos no centro do Universo. Teríamos a mesma perspectiva de qualquer outra galáxia, ou seja, veríamos de qualquer galáxias, as galáxias longínquas a afastarem-se de nós, como se representa nas figuras seguintes:

A Teoria da Relatividade generalizada propõe dois modelos de Universo:

O Modelo do Universo Estacionário, previsto apenas pela teoria, e,

O Modelo do Big-Banga, previsto pela teoria e confirmado pelas observações.

De acordo com o último Modelo, o Universo teve um começo e está em expansão, prevê-se que as abundâncias dos diferentes elementos químicos no Universo primordial - 75%H e 25% He, e prevê-se, a existência de uma radiação cósmica de fundo.

Sabendo a taxa de expansão do Universo, podemos estimar o tempo que as galáxias levaram a afastarem-se dum mesmo ponto inicial até aonde se encontram agora:

T ≈ d/v =14 mil milhões de anos

A Radiação

Todos os corpos emitem radiação característica da sua temperatura.
A cor de uma estrela diz-nos a sua temperatura.


Radiação cósmica de fundo

Na sua infância, o Universo era extremamente quente e denso. A matéria e a radiação estavam em constante interacção;
À medida que o Universo expandia, a densidade e temperatura baixavam;
Na sua juventude, aos 380 mil anos, a radiação existente deixou de interagir com a matéria;
Desde essa altura, esta radiação propaga-se livremente e é hoje observada como a radiação cósmica de fundo. A radiação cósmica de fundo foi descoberta acidentalmente como um ruído em 1964 por R. Wilson & A. Penzias.

O Estudo Experimental do Universo


COBE (COsmic Background Explorer) foi lançado em 1989 para medir o CMB em baixos comprimentos de onda (1cm a 0.001mm) em todo o céu.


John Mather foi o investigador principal e responsável por um dos instrumentos a bordo – FIRAS – com o objectivo de medir o CMB a diferentes comprimentos de onda.

O ajustamente entre os dados experimentais e os medidos pela COBE foram supreendentes, porque conseguiu eliminar um vasto conjunto de interferências.

George Smoot foi o responsável pelo instrumento – DMR - que pretendia medir pequenas variações espaciais no CMB (anisotropias), podendo obter-se uma imagem mais nítida do Universo Primitivo.


O COBE permitiu confirmar com grande precisão as previsões do modelo do Big-Bang e observar anisotropias na radiação cósmica de fundo.

A cosmologia é, ainda hoje, uma ciência experimental e em rápida evolução, deixando muitas questões em aberto:
-O Universo é em grande parte constituído por algo desconhecido;
-O modelo do Big-Bang não responde a diversas questões - teorias de inflação, defeitos topológicos, variação das constantes da natureza e dimensões extra, e,
-A interacção entre cosmologia e física de partículas será fundamental para compreender a natureza da matéria e energia escura.

Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual. O Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia foi apresentado/discutido pelo Professor Doutor Duarte Mendonça.
A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia, em partes iguais, a Andrew Z. Fire e Craig C. Mello pela “descoberta do mecanismo fundamental para o controlo dos fluxos de informações genéticas" (for their discovery of RNA interference - gene silencing by double-stranded RNA).


Andrew Z. Fire é Prof. de biologia no Instituto de Tecnologia de Cambridge e Prof. de patologia e genética, Universidade de Medicina de Stanford, na California.

Craig C. Mello é Prof. de biologia na Universidade de Harvard e Prof. de medicina molecular, no Instituto de Pesquisas Howard Hughes, no Massachusetts. A atribuição do Prémio Nobel na Medicina, ainda que ex-aequo, a Craig Mello, provocou uma certa onda de euforia em Portugal. Descendente de açorianos, criou uma certa sensação de que este Nobel é um «bocadinho» nosso, de que anda lá um toque português metido no assunto.
Curiosamente, Craig não só não rejeita esse passado um tanto longínquo – trata-se de um avô – como o discute com os seus alunos de doutoramento portugueses. São dois, muito jovens, sendo um deles descendente de açorianos igualmente e – pasme-se! – tendo também o apelido Melo.

Que descobriram estes investigadores?

Descobriram um mecanismo de silenciamento genético que ocorre a meio caminho entre a transcrição de um gene activo no núcleo e a produção da proteína por ele codificada no citoplasma.

O que é o RNAi (RNA interference)?

O "RNA interference”, (RNAi) ou ARN de interferência, é uma forma de silenciamento de genes após a transcrição, na qual o ARN de cadeia dupla induz a degradação de transcritos homólogos, resultando num efeito semelhante à redução, ou perda, da actividade do gene.
Tem ainda outras designações distintas consoante se trate de animais, plantas ou fungos:

RNAi - em animais;

Post-transcriptional gene silencing – PTGS, em plantas;

Quelling, em fungos.

Post-transcriptional gene silencing

No caso das plantas já era conhecida a co-suppression esquematizada na figura seguinte:


e a Resistência a vírus vegetais, exemplificada na figura que se segue:

Modelo inicial interpretativo da resistência a vírus vegetais era baseado na protecção mediada pela cápside viral, tendo-se verificado que efectivamente a resistência era maioritariamente mediada pelo RNA viral.

De facto a resistência das plantas a vírus tem uma resposta fenotipica a infecções por PPV. Na figura seguinte apresenta-se os tipos de respostas observadas nas plantas no Centro de Genética e Melhoramento Vegetal da Universidade dos Açores:

Na primeira linha encontram-se as folhas de uma planta imunizada, na segunda linha, as folhas de uma planta com recuperação rápida da infecção, na terceira linha, as folhas de uma planta com recuperação tardia, e na última linha, as folhas de uma planta susceptível a infecção viral.

O mecanismo de RNAi, nos animais, pode ser esquematizado nas figuras seguintes:

Prémio Nobel da Economia 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual. O Prémio Nobel da Economia foi apresentado/discutido pelo Professor Doutor Tomaz Dentinho e pelo Dr. David Bedo. A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Economia, a Edmund S. Phelps “pela sua análise sobre trade-offs intertemporais na política macro-económica".
Edmund Phelps é professor de Economia Política na Columbia University-New York e Director do Center on Capitalism and Society, Earth Institute, da Columbia University.
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nova de Lisboa-Portugal em Outubro de 2003.

A Problemática

Os objectivos centrais da Política Macro-Económica são Pleno emprego, preços estáveis e crescimento rápido.
Como é que a inflação e o desemprego devem ser balanceados?
Como deve ser feito o trade-off entre o consumo actual e o consumo das gerações futuras?
Edmund S. Phelps, propõe-se:
1) Perceber melhor os trade-offs entre inflação e desemprego e,
2) Demonstrar que a distribuição do bem estar no tempo depende não só da poupança e da formação de capital mas também do balanço entre inflação e desemprego.
A sua análise foi importante para a teoria económica e para a política.

Os diferentes formalismos e abordagens:

A formação de Capital

Questões e leis:
Qual a taxa de formação de capital, físico e humano, é desejável para uma distribuição de bem estar ao longo de gerações? O objectivo é alcançar o máximo bem estar sustentável no longo prazo.
A regra de ouro é que a taxa de formação de capital deve ser igual à relação entre o rendimento de capital e o rendimento total.
Ou seja que a taxa de poupança deve ser suficientemente alta para que a taxa de rendimento real do capital seja igual à taxa de crescimento da economia.
Desenvolvimentos:
O aumento da taxa de poupança para cumprir a regra de ouro pode prejudicar as gerações presentes em favor das gerações futuras.
O stock de capital pode ser muito elevado e o bem estar de todas as gerações pode subir pela redução da taxa de formação de capital.
Quando há diferenças geracionais nas preferências entre consumo e poupança um sistema de pensões pode aumentar o bem estar de todas as gerações.
O investimento em investigação e desenvolvimento deve ser feito de forma a que o seu rendimento deve ser igual ao da taxa de crescimento da economia.
Maiores níveis de capital humano melhoram a disseminação de novas tecnologias pelo que o crescimento da economia varia não só com o crescimento do capital mas também com o montante de capital humano.

Formação do Capital-A Formalização

Hipóteses:
A função de produção neoclássica
Yt = A (NXt)a Kt (1-a )
Em que
Y = produto;
N= trabalho;
Xt= progresso técnico associado ao trabalho;
Kt = capital;
1-a= elasticidade produto/capital;
a= elastiticade produto / trabalho com progresso técnico.
O progresso técnico cresce a taxa constante (g)
Xt+1 = g Xt
O capital evolui de acordo com o investimento líquido das depreciações
Kt+1 = It + (1-d) Kt
O Investimento é igual à Poupança que é uma fracção do produto
It = sYt
Qual a taxa de poupanças que maximiza o produto e estabelece o equilíbrio de consumo entre gerações?
S = (1-a)



Formação de Capital - Historial

Formação do Capital-Consequências


Boas razões para introduzir esquemas públicos de pensões.

Boas razões para subsidiar a educação.

A Discussão


A atribuição do Prémio Nobel é feita no pressuposto que a sociedade beneficia com a investigação realizada. Será este benefício real?
De que forma pode ser encarada na Região Açores a não utilização da política fiscal para promover o crescimento?
De que forma as pensões afectam a sustentabilidade do consumo?
Qual a nossa atitude no que diz respeito ao investimento individual em educação? Até quando cada um de nós está disposto a estudar?


Prémio Nobel da Química 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual. O Prémio Nobel da Química foi apresentado/discutido pelas Professoras Célia Silva e Rosalina Gabriel.
A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Química, a Roger D. Kornberg da Stanford University, CA, USA, pelos "Estudos sobre a base molecular da transcrição nos eucariotas".
Roger D. Konberg é filho de Arthur Kornberg, Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1959.
Os trabalhos que levaram à atribuição deste prémio são recentes, sendo os mais significativos os que se seguem:
Patrick Cramer, David A. Bushnell, Roger D. Kornberg. Structural Basis of Transcription: RNA Polymerase II at 2.8 Ångstrom Resolution. (2001) Science 292, 1863-1876.
Averell L. Gnatt, Patrick Cramer, Jianhua Fu, David A. Bushnell, Roger D. Kornberg. Structural Basis of Transcription: An RNA Polymerase II Elongation Complex at 3.3 Å Resolution. (2001) Science 292, 1876-1882.
David A. Bushnell, Kenneth D. Westover, Ralph E. Davis, and Roger D. Kornberg. Structural Basis of Transcription: An RNA Polymerase II-TFIIB Cocrystal at 4.5 Angstroms (2004) Science 303: 983-988.
As células
Na figura seguinte esquematizam-se os vários tipos de células observadas nos seres vivos (adaptada de http://jura.wi.mit.edu/bio/graphics/other/art.htm ):

Nas figuras seguintes, adaptadas de http://www.surrey.ac.uk/SBMS/ACADEMICS_homepage/mcfadden_johnjoe/img/M_tb_em.jpg e de http://www.genomenewsnetwork.org/gnn_images/news_content/12_01/Art_gallery_
MP/Art_gallery_MP_02.jpg, apresentam-se imagens de células procariotas e eucariotas da Eschirichia coli e células do sangue, respectivamente.


As diferenças entre células procariotas e eucariotas podem ser esquematizadas como na figura seguinte (adaptada de http://www.phschool.com/science/biology_place/biocoach/images/cells/allcell.jpg).

As funções do núcleo

Produção e manutenção de material com informação genética
–Condensação da cromatina
–Replicação: Síntese de DNA
–Transcrição: Síntese do RNA
Na figura seguinte esquematiza-se o fluxo de informação genética.

Esse processo é diferente nas células procariotas e nas células eucariotas. Na figura seguinte esquematiza-se o fluxo de informação genética num e noutro tipo de células.

Roger D. Kornberg, através de várias metodologias que incluíram a difracção de raios X, conseguiu elucidar as estruturas moleculares da RNA polimerase II nos eucariotas e do complexo de transcrição, que inclui numerosas moléculas como o próprio DNA, RNAm, factores de iniciação e o mediador. Parte dessas extruturas são apresentadas nas figuras seguintes.

Na figura seguinte apresenta-se a imagem em computador do complexo de iniciação da transcrição que inclui a RNA polimerase e os factores de iniciação:

O trabalho de Kornberg é de extrema importância para perceber o mecanismo de regulação da transcrição nos eucariotas, com enorme importância na compreensão dos mecanismos de diferenciação celular e inúmeras aplicações médicas.

Saturday, October 21, 2006

Prémio Nobel da Paz de 2006

Realizou-se no Anfiteatro do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, no dia 19 de Outubro de 2006, uma apresentação-discussão sobre os trabalhos dos galardoados com os Prémios Nobel deste ano de 2006 e os impactos que tais trabalhos podem ter na sociedade actual.
O Prémio Nobel da Paz foi apresentado/discutido pela Professora Emiliana Silva e pelo Professor Félix Rodrigues.
A Comissão Nobel Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz, em partes iguais, a Muhammad Yunus e ao Grameen Bank "pelos esforços em estimular o crescimento económico e social utilizando o microcrédito".


Considera ainda a Academia, que a Paz só é conseguida quando, grande parte da população, consegue sair da pobreza.
O Microcrédito foi o meio utilizado para quebrar o ciclo de pobreza dos mais desfavorecidos em várias partes do Mundo e acredita-se que o desenvolvimento centrado na pessoa humana promove a democracia e os direitos humanos.
Muhammad Yunus beneficiou milhares de pessoas não só no Bangladesh mas em vários países do mundo. Os empréstimos a pessoas que não tinham capacidade financeira de os suportar aparentava ser uma ideia quase impossível (Adaptado: http://nobelprize.org).

Muhammad Yunus implementou o micro-crédito de forma modesta, no Grameen Bank, há três décadas atrás, como forma de lutar contra a pobreza. Este modelo de crédito tem sido copiado e expandido em vários países no mundo.
De acordo com Muhammad Yunus, todas as pessoas da Terra têm simultaneamente potencial e direito de viver com um mínimo de qualidade. Yunus e o Grameen Bank mostraram que em todas as culturas e civilizações, os mais desfavorecidos podem-se desenvolver.
O microcrédito provou ser uma força impulsionadora de desenvolvimento na sociedade, onde as mulheres são alvo de repressões económicas e sociais. Aliás, o crescimento económico e a democracia só serão alcançados se houver igualdade de oportunidades e direitos entre homens e mulheres.
Yunus pretendia acabar com a pobreza no mundo, sendo o microcrédito apenas uma das ferramentas que contribuía para a resolução deste problema (Adaptado: http://nobelprize.org).


O que é o microcrédito na Europa?

O microcrédito na Europa, define-se de acordo com as seguintes características:
- dirige-se aos mais desprotegidos, ou seja, aos social e economicamente excluídos (instrumento de combate à pobreza e exclusão social);
- destina-se exclusivamente àqueles que queiram criar o seu próprio emprego ou pequeno negócio;
- trata-se de pequenos montantes que variam entre 500 € e 10 000 € (no caso da ANDC - Associação Nacional de Direito ao Crédito - o leque situa-se entre os 1 000 e os 5 000 euros).
- é o desenvolvimento, por parte das instituições que trabalham na área do microcrédito, de práticas inovadoras tais como o acompanhamento do micro-empresário e estabelecimento de uma relação de confiança entre alguém que está disposto a mudar a sua vida e que acredita nas suas capacidades e saberes - fazendo desse alguém, que está disposto a assumir o risco inerente a um negócio, por mais pequeno que ele seja, um empresário.

Para quê o microcrédito?

- Para desenvolver uma actividade económica, criar o seu próprio posto de trabalho ou a sua micro-empresa ( com base num plano de actividades, de serviço ou de negócio).
- Para não ficar à espera dos apoios públicos (muitas das ideias, condições e circunstâncias que permitem a viabilidade de pequenos negócios não podem esperar muito tempo por subsídios para arrancarem).
- Para as pessoas permanecerem livres de aplicar os fundos no que realmente precisam ( a maioria dos apoios públicos atribui os subsídios às "despesas elegíveis" do programa, o que faz com que o crédito não seja concedido a parcelas específicas de cada projecto e que só seja entregue após a apresentação das facturas comprovativas do investimento).

A quem conceder o Micro-crédito?

Para aumentar as hipóteses de sucesso do microcrédito, sem tornar incomportável o custo do crédito, é preciso:
- Conhecer bem as pessoas,
- Autonomizar os custos no apoio à melhoria de cada plano de negócios,
- Reduzir os riscos do crédito concedido,
- Acompanhar a evolução do negócio e os pagamentos do empréstimo.

Porquê o microcrédito?

- Porque as pessoas a quem ele é atribuído honram os seus compromissos.
- Porque o crédito dignifica as pessoas.
- Porque o crédito introduz as pessoas no sistema económico e permite a sua inclusão na sociedade.
-Porque o crédito não exige a formalização imediata da actividade.
- Porque o crédito é rotativo e reprodutivo.
- Porque o crédito resulta das poupanças dos cidadãos e das empresas.
- Do ponto de vista ético, o microcrédito é, seguramente, uma aplicação da nossa poupança bem mais interessante do que outros tipos de financiamentos.

Para quem o Microcrédito?

- Para os desempregados ou desocupados (principalmente mulheres).
- Para os que não possuem as qualificações desejadas pelos empregadores, por questões de idade, ou porque vivem em regiões de baixo dinamismo económico.
- Para permitir a criação do seu próprio posto de trabalho ou uma micro-empresa.
- Porque os micro-serviços e as pequenas produções criadas por pessoas que o mercado de trabalho não absorve podem ter sucesso e gerar excedentes que permitam pagar os empréstimos contraídos.

A expansão do Microcrédito

Em todo o mundo, cerca de 12 mil instituições concedem micro-empréstimos a perto de 50 milhões de pessoas, totalizando créditos totais superiores a 5,5 mil milhões de Euros.

Em Portugal, em 2005, o número de empréstimos de microcrédito tinha aumentado 142 por cento relativamente a 2004, para 153 processos, que totalizaram um volume de crédito concedido de 693,73 mil euros, o que traduz uma subida de 119 por cento.


Como obter Microcrédito em Portugal?
Informação - Associação Nacional de Direito ao Crédito.
http://www.portaldaempresa.pt/
A Discussão
Os programas de erradicação da Fome no Mundo tem quase tudo para serem utopias, mas sem dúvida que podem traduzir um forte desejo da Comunidade Internacional. Neste contexto, o micro-crédito tem-se revelado um instrumento poderoso para consolidar e operacionalizar essa bela utopia. No Combate à Fome no Mundo, serão necessárias outras acções ou outras armas, não só as que se referem ao crescimento económico ou à melhoria de infra-estruturas, mas também aquelas que apostam na Educação, tão global quanto a Economia Global.
A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Muhammad Yunus e ao Grameen Bank, reconhece indirectamente, em nosso entender, o mérito da iniciativa "Pobreza Zero" desencadeada pelas Nações Unidas e por várias Organizações Não Governamentais.
Também não foram certamente alheios à atribuição deste prémio os princípios/objectivos preconizados na "Declaração do Milénio" da ONU, como o de reduzir para metade a pobreza extrema e a fome, o de promover a igualdade entre os sexos, o de garantir a sustentabilidade ambiental ou o de criar uma parceria mundial para o desenvolvimento.
A atribuição do Nobel da Paz de 2006, parece seguir na linha do prémio Nobel de 2004 atribuído a Wangari Muta Maathai, pela sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, democracia e paz.
O Prémio Nobel da Paz de 2006, também poderia ter sido um Prémio Nobel da Economia, certamente não o foi, porque para além de se reconhecer eficácia na estratégia económica do Grameen Bank, também se reconheceu a valorização da dignidade da Pessoa Humana contida na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
A grande mensagem deste prémio poderá ser: "Voltemos a acreditar nos Homens e assim criaremos um Mundo mais Justo" e se tal for concretizavel, os impactos poderão ser positivos, quer em termos micro-económicos quer em termos macro-económicos, ou até mesmo, em termos de sustentabilidade ambiental, se bem que, não é possível estabelever uma relação clara e inequívoca entre fome e degradação ambiental.